Cerca de 300 famílias angolanas continuam ao relento depois de verem as suas casas demolidas pela administração do Dande por suposta ocupação ilegal de terrenos. O Governo já prometeu realojar as pessoas.
As famílias dizem não ter alternativa a não ser pernoitar na vizinhança. Ou na pior das hipóteses ao relento, como é o caso de Maria Dombele, que também não tem o que comer. "Estou a dormir sempre fora, o marido não me deixou casa", relata.
Eva José, outra senhora que viu a sua casa demolida, também está revoltada com a situação: "O bairro é nosso, quem me vai pagar o meu dinheiro, é o Estado? O Estado come bem e bebe bem e vai precisar de nós para o voto."
Durante a ação demolidora, nem a escola da comunidade foi poupada. Numa altura em que falta pouco para o fim do ano letivo, a estudante da sexta classe Angelina Benguela, de 13 anos, pede a intervenção das autoridades.
"Nós queremos estudar de novo, estamos muito tristes por partirem a nossa escola", lamenta a jovem.
Governo reconhece excessos
A Administração Municipal do Dande reconhece excesso na atuação das autoridades e anuncia o realojamento da população numa outra zona.
O administrador Fonseca Canga justifica a medida com a necessidade de se colocar infraestruturas sociais nos arredores da centralidade e um hospital que estão sendo construídos na zona. E desencoraja a construção ilegal.
"Não podíamos permitir isso, tivemos que dar um basta nisso para desencorajar outras ações que tem se verificado ao nível do nosso município."
Mais fiscalização
Mas o analista angolano Teixeira de Andrade olha com ceticismo para o reaproveitamento da zona desalojada: "Depois vamos ver quem são os que vão ter os lotes aí, quem administra entende bem este mercado, veremos de quem vão ser os bares, colégios, pensões..."
Tudo acontece numa altura em que a mesma administração anuncia o despedimento de oito agentes da fiscalização. O documento tornado público avança que os agentes violaram gravemente os princípios que regem a instituição.
A DW África tentou sem sucesso ouvir os visados, que são acusados de receber dinheiro de forma indevida na aplicação de multas.
O administrador Fonseca Canga diz que a iniciativa vai continuar. "Todos funcionários da administração do Dande, a todos níveis, devem adotar a conduta normal, cívica de uma sociedade sã", conclui. DW