A Associação dos Técnicos Ferroviários de Angola (ATECFA) queixou-se hoje da falta de certificação regular de milhares de profissionais do setor, alertando que a situação periga a vida de passageiros que recorrem aos serviços ferroviários no país.
A preocupação foi manifestada hoje pelo presidente da ATECFA, Mário Cuâmbua, que disse existirem técnicos que com trinta anos de atividade nunca beneficiaram de ações de formação, tendo pedido o cumprimento da lei na formação e qualificação dos profissionais.
“Os técnicos veem para o setor, são formados, mas há funções que devem ser certificadas, por exemplo, o chefe de estação, o maquinista, o operador de manobra, há algumas funções que têm de ter um certificado passado por alguma entidade reguladora”, disse hoje o responsável aos jornalistas.
Em declarações à margem do 2.º Ciclo de Conferências Técnicas Ferroviárias Angola Rail 2023, Cuâmbua referiu que a formação confere ao profissional ferroviário maior competência e/ou qualificação para poder operar.
“Há casos que isso [formação e qualificação] não acontece e se houver alguma falha o técnico é que é punido. Normalmente a falha reverte para o técnico e não reverte para a instituição”, realçou.
Segundo o dirigente, a ATECFA quer juntar os órgãos públicos, a associação e as escolas de formação "para que os técnicos sejam capacitados e certificados.
"Tem que ser assim, o técnico não pode sofrer uma punição por um acidente em que ele não foi o protagonista, mas a falha foi do material”, sustentou.
Mário Cuâmbua disse que muitos técnicos do setor têm sido penalizados, inclusive com congelamento dos salários, sempre que um comboio se envolve em acidentes, que, realçou, muitas vezes acontecem por falha técnicas.
Questionado sobre de quem era a competência de certificar os técnicos ferroviários, o presidente da direção da ATECFA disse ser atribuição dos órgãos reguladores, os quais, acredita, terão a questão em agenda, acrescentando que vai ser feito um trabalho conjunto para que "esta certificação aconteça regularmente".
"Vamos fazer advocacia para o efeito" e também para a formação, porque “há pessoas que fazem 30 anos no setor e nunca vão para uma sala de aula e isso não pode ser”, afirmou.
A rede ferroviária de Angola é composta pelos Caminho de Ferro de Luanda (CFL), Caminho de Ferro de Benguela (CFB) e Caminho de Ferro de Moçâmedes (CFM), empregando milhares de técnicos, muitos “sem qualificação específica”.
Sem avançar o número exato de técnicos não qualificados, “por falta de dados”, o presidente da ATECFA sinalizou a necessidade da qualificação, sobretudo para profissionais que trabalham com comboios de passageiros.
Recordou que a lei do setor “exige” a qualificação dos seus intervenientes, pedindo “rigor” no cumprimento das disposições legais do setor ferroviário.
“Vamos apenas ser rigorosos no cumprimento da lei, sempre se fez certificação, o que queremos apenas é que aconteça com regularidade (…). Estamos agora a falar em locomotiva em hidrogénio, ainda estamos em diesel, mas precisamos de qualificação”, rematou Mário Cuâmbua.
A conferência, promovida pela ATECFA e empresas públicas deste subsetor dos transportes terrestres, celebra a Semana de Segurança Ferroviária da Comunidade de Desenvolvimento de África Austral (SADC) e os 135 anos do início da exploração ferroviária em Angola. In Lusa