Um ativista angolano relatou hoje um cenário de “incerteza e temores” dos cidadãos na província do Huambo, palco de protestos e confrontos entre taxistas e agentes da polícia, e referiu que há dezenas de feridos, contrariando a versão das autoridades.
Jeiel de Freitas, ativista cívico residente na província do Huambo, deu conta à Lusa que o quadro atual da cidade é de incerteza, embora tenham diminuído os focos de violência, na sequência dos protestos de segunda-feira contra a subida do preço do combustível.
“Há muito policiamento na rua para tentar inibir qualquer ato de violência, mas não há táxi a circular, há muita incerteza, as pessoas estão com receios, há escolas que decretaram tolerância de ponto hoje por conta da não-circulação de táxis”, contou.
Segundo o ativista, circulam apenas pela cidade do Huambo, sul de Angola, autocarros públicos, por persistir ainda alguma resistência de taxistas em saírem à rua, quando outros se mostram descontentes com o posicionamento da associação local da classe.
“A ATA [Associação dos Taxistas de Angola] aqui no Huambo, que era a principal promotora dessa manifestação, não sei se houve negociações clandestinas ou coisa parecida, mas mudou completamente o discurso e hoje pela manhã o seu secretário provincial tem um discurso diferente”, disse.
A província angolana do Huambo foi, nesta segunda-feira, palco de protestos de taxistas e de mototaxistas, por estes alegadamente não terem sido beneficiados de cartões subvencionados para a aquisição da gasolina, cujo litro custa desde sexta-feira 300 kwanzas (0,48 euros) contra os anteriores 160 kwanzas (0,25 euros).
Em comunicado, a polícia repudiou os atos, que considerou de “desordem pública e de afronta às forças policiais” e lamentou a morte de cinco pessoas e o ferimento de outras oito, além de anunciar que foram detidas 34 pessoas.
Em relação aos números avançados pela polícia, Jeiel de Freitas contraria essa versão, afirmando que o número de detidos está a aumentar e que os feridos foram contabilizados em mais de 30, que deram entrada na segunda-feira no banco de urgência do Hospital Geral do Huambo.
“A polícia ainda está a fazer buscas, isto quer dizer que o número de detidos está a aumentar. Então há ainda muita incerteza aqui e não será num dia... por isso digo que o comunicado da polícia não é tão verdadeiro, não há matérias suficientes para se ter dados conclusivos”, notou o ativista.
“A polícia fala em cinco mortos e oito feridos, mas a nossa fonte do hospital diz que o número de feridos avançados pela polícia talvez seja apenas os que foram ao bloco operatório, porque o número de feridos que deram entrada ao banco de urgência do Hospital Geral do Huambo passam das três dezenas”, justificou.
O também membro do Movimento Cívico Mudei acrescentou: “Há ainda feridos, que com receio de serem detidos, não recorreram ao hospital, estão a receber assistência em postos privados e alguns mesmo em casa”.
O Governo angolano anunciou na semana passada a retirada gradual de subsídios à gasolina, mantendo a subvenção ao setor agrícola e à pesca.
De acordo com o ministro de Estado para a Coordenação Económica de Angola, Manuel Nunes Júnior, as tarifas dos taxistas e mototaxistas vão ser subvencionadas, continuando os mesmos a pagar 160 kwanzas o litro de gasolina, cobrindo o Estado a diferença. Angola24horas